O Novo Testamento não foi formado pela igreja romana
Segundo apologistas católicos, o Novo Testamento (NT) é produto de uma decisão da igreja de Roma imposta de cima para baixo, logo, a autoridade romana precede a autoridade bíblica. Mas, dado que o Concílio de Trento, no século XVI, foi o primeiro concílio ecumênico a reconhecer o cânon bíblico do NT que temos em mãos hoje, quer dizer que não havia NT até o século XVI? Não. Na verdade, o que o Concílio de Trento fez foi apenas reconhecer um cânon que já havia sido descoberto como coleção de textos inspirados desde o século IV. E esse processo de descoberta se deu de maneira espontânea, descentralizada e progressiva, de tal modo que, paulatinamente, foi havendo uma convergência de entendimento dos cristãos dos primeiros séculos. Inclusive os concílios de Hipona e Cartago fazem parte desse processo descentralizado, uma vez que foram concílios locais, que, segundo os critérios da igreja de Roma, sequer são "infalíveis". Além disso, é preciso considerar que, nesse período, a igreja de Roma não tinha qualquer supremacia sobre as demais, conforme podemos constatar em diversas fontes primárias.
Posto isso, o que vemos é que, ao invés de uma imposição de um poder central vinda de cima para baixo, houve um processo orgânico de descoberta vindo de baixo para cima. E, adiantando uma resposta a uma possível objeção: sim, houve uma tradição que nos entregou o cânon, mas disso não decorre que a tradição que nos entregou o cânon carrega acréscimos à revelação que foi escrita.
Por fim, não me parece que há dificuldade em o cristão reformado explicar a origem do NT sem apelar para um poder central. Por outro lado, parece-me que o católico romano enfrenta muito mais dificuldades ao tentar demonstrar a legitimidade da autoridade de seu magistério que supostamente criou o NT, pois o católico tem a dificílima tarefa de demostrar as evidências que corroboram a primazia de Roma, que supostamente herdou a sucessão apostólica que tem como origem a nomeação do próprio Cristo. Adianto: não há.
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